Sistema de cotas? Mas o problema não tá lá embaixo??!!

Aproveitando o 13 de maio e a lembrança da assinatura da Lei Áurea, que para quem não se lembra foi aquela que acabou com o trabalho escravo sem propiciar qualquer tipo de assistência pública aos que sustentaram a economia brasileira por quase quatro séculos, gostaria de recolocar em discussão um assunto levantado na mídia recentemente. Faço isso porque é um debate que não deve sair de pauta e além disso porque pude constatar que o tema acabou sendo abafado pelo teor de outras discussões bem mais importantes para o imaginário social, como as peripécias de Ronaldo Fenômeno e a novela do dossiê da gestão do PSDB, também conhecido como banco-de-dados-da-Dilma.
Todos devem lembrar que há alguns anos algumas universidades e faculdades brasileiras resolveram instalar uma política de cotas para afro-descendentes. O sistema, adotado pela primeira vez na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em 2001, ainda gera polêmica e divide opiniões. Em todas as faculdades brasileiras os negros representam uma minoria e dados atuais mostram que 97% dos atuais universitários brasileiros são brancos, contra 2% de negros e 1% de amarelos. Isso num país em que 45% da população é negra. Aliás a população negra lidera a maioria das estatísticas marginais no país, como dos moradores de favelas, dos desempregados, dos sub-empregados, das domésticas, das prostitutas, da massa carcerária e também dos mortos em chacinas.
Diante dessa disparidade há de se constatar que existe um perverso desequilíbrio nesta questão, porém a solução das cotas está longe de ser uma unanimidade. Até mesmo os governos se mostram indefinidos sobre o tema. A lei estadual que introduziu as cotas, e previa 40% de vagas para negros e pardos, nas universidades do Rio de Janeiro, foi modificada. Se antes negros e pardos tinham o privilégio, independentemente de sua posição social, agora só negros carentes têm direito as cotas e a quantidade de vagas caiu para 20%. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), dos 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza, 70% são negros. Desta forma a política de cotas aplicada a carentes ainda beneficia principalmente a população negra.
O sistema brasileiro foi baseado no sistema de cotas norte-americano, afinal de contas no Brasil nada se cria, tudo se copia. Só que nos EUA o sistema de entrada nas universidades é bem diferente. Lá as escolhas são feitas de forma pessoal, ou seja, você preenche e envia formulários comunicando a sua intenção de entrar em determinada universidade, se submete a entrevistas, envia recomendações de professores e a universidade te aceita ou não. Existe uma grande possibilidade para ocorrência de racismo. No Brasil temos o vestibular, um sistema meritocrático baseado na qualidade do aluno, que com todos os seus problemas ainda possibilita um acesso democrático a universidade. O computador que verifica o cartão-resposta não o faz analisando a cor do candidato.
Cotas raciais, além de me parecer racismo, é apenas um paliativo para um problema bem maior que é o da educação no país em todos os níveis. É uma solução criada por um país incapaz de melhorar sua rede de ensino e onde incompreensivelmente, os gastos com o nível superior são mais elevados do que com o ensino básico. Este tipo de recurso imediatista não gera custos para os cofres públicos, e faz com que o governo deixe o problema da educação cada vez mais em segundo plano. Aumentar o número de afro-descendentes nas universidades não acaba com a exclusão e ainda fere o princípio fundamental de igualdade entre os cidadãos, garantido pela constituição. É um tiro no pé da questão, considerando que em suas entrelinhas está a afirmação de que os beneficiários são inferiores e não teriam capacidade suficiente para competir de igual para igual. Há relatos inclusive de que alunos que entraram na universidade através do sistema de cotas sofrem discriminação em sala de aula, não só dos colegas mas de professores.
Em se tratando de uma medida transitória ou emergencial ainda vá lá, mas o engodo já nasceu como solução final. Neste caso trata-se de mais uma medida populista, mais um “bolsa-esmola”, que além de não atacar a causa do problema (que é bem mais embaixo), ainda é segregatória.
Eu, que bem me lembro de um conhecido ditador alemão que achava que poderia conquistar o mundo e que sua raça era superior, penso que sistema de cotas é simplesmente separação de raças.