masturbações e acontecimentos

a morte é uma transição sem metáforas
largando o passado aos ossos roídos
e mergulhando num copo de vodka
nossa longevidade “on the rocks”

e similar à expectativa
que nos ata à vida
ruminamos os dias
como um canibal suicida
amargando em nossas bocas
a afirmação de sermos vagos
e em nossas narinas
o cheiro acre do suor derramado

somos esquizofrênicos esperançosos
aguardando o caos dobrar a esquina
e cultivando uma fragilidade parnasiana
em nossos românticos corações
enterramos as catástrofes e falhas
como se tirássemos do dedo uma farpa
como uma borboleta que esquece
o tempo em que foi lagarta

e em nossas caras
uma porção de adjetivos
nos roubando a realidade Guernica
aos nossos orgulhosos olhos
então tatuamos nos rostos
um forçado sorriso
sem rigor, sem rima
sem não, sem sim
errantes como um Quixote
começamos mal o nosso fim