Passado o feriado (ou feriadão, para muitos) trago a tona uma discussão, que estou certo, não será bem degustada por muitos, mas com certeza se falássemos no assunto ontem, na praia, à beira da piscina, no sítio ou tomando caipirinha no churrasco, a indigestão seria certa.
Os empresários não gostam e o comércio torce o nariz. Alguns têm demais, outros têm de menos. Mas com certeza nenhum outro povo gosta tanto de feriados como o brasileiro. O Brasil tem hoje 10 feriados oficiais, levando-se em conta que o carnaval e a sexta-feira santa, apesar de pontos facultativos, já foram incorporados ao calendário como se fossem feriados. Além desses há também os feriados municipais que segundo lei não podem ultrapassar 4 dias no ano e, no caso do Rio de Janeiro, este conta com mais três datas. Uma delas é o dia 20 de novembro, onde homenageia-se Zumbi dos Palmares, ícone da resistência negra à escravidão, cuja existência diga-se de passagem, nem mesmo é justificada por dados da historiografia brasileira. A lei, sancionada em 2002 pela então governadora do Rio, Benedita da Silva, homenageando o suposto herói, agradou a muitos. Infelizmente não se pode dizer o mesmo da atuação política da petista em sua gestão pelo estado. O fato é que o feriado onde juntamente se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, já é comemorado também em 15 municípios de São Paulo. Mas será que precisamos parar a cidade para discutir o problema racial no Brasil? A causa é justa porém o método é equivocado. A data é considerada preconceituosa e demagógica para muitos que acreditam que há de se criar políticas para debater melhor o assunto e não um dia de folga a mais no mês de novembro.
Outro feriado instituído recentemente através de projeto de lei do deputado estadual do PT Jorge Babu, é o dia de São Jorge, comemorado ontem, 23 de abril. Conhecido devoto da umbanda, Babu, para quem não se lembra, foi investigado por venda de votos na eleição municipal de 2002 e preso pela polícia federal em 2004 por participar de uma rinha de galos no Recreio dos Bandeirantes. Mas essa é outra história... O deputado apresentou novo projeto de lei na Alerj para expandir o feriado municipal para todo o estado. Recentemente ao ser questionado por representantes lojistas, Babu respondeu que o feriado não traria prejuízos para o comércio porque, quem não comprasse nesse dia, compraria em outro. Babu reinventou a roda, pois usando esta lógica podemos estabelecer feriado nos quinze primeiro dias do mês, pois quem não comprar nesses dias, comprará nos outros quinze.
Outra questão que me incomoda está no fato de que São Jorge é outro personagem a ser contestado, pois não há nenhum registro histórico de sua existência, baseada apenas em escritos apócrifos e lendários. A igreja católica inclusive negou sua existência até meados do século passado.
Contando com o feriado do Dia de São Jorge, são 6 os feriados com motivação religiosa num país que se diz laico como o Brasil. E mais estranho (ou não) é que desses seis feriados, todos são católicos, o que não soa nada democrático, se é que a palavra pode ser aplicada nessa questão.
Deixando de lado as motivações e homenagens a santos e heróis (heróis??, in Brazil??), se existe uma coisa que o brasileiro se empenha em aproveitamento são os feriados. Sobre protesto do grupo dos “quanto mais melhor”, é fato que os feriados atualmente não tem nenhum simbolismo e significam perda de receita para o país, quer queiram ou não. De acordo com o estudo realizado pela Associação dos Lojistas do Brasil o comércio tem um prejuízo de cerca de 12,5% nas vendas, por feriado. No ano passado o país fechou o calendário com 28 dias a menos por conta de feriados e pontos facultativos.
Na contramão dos insatisfeitos, o turismo é um dos poucos a comemorar o crescimento do setor, que nos feriados têm uma generosa alta em seus gráficos de receita.
A China por incrível que pareça, estuda a possibilidade de aumentar o número de feriados de dez para onze dias. Então você há de me questionar: então o caminho é esse! Nem tanto. Os empresários e governantes chineses criam mecanismos de compensação das produções perdidas nestes dias de recesso. Isso também acontece nos EUA, onde 90% dos feriados são programados para as segundas-feiras. Este tipo de medida acaba com as “pontes”, aqueles dias úteis entre o final de semana e o feriado que se transformam em recesso. No Brasil este tipo de medida já tentou ser implementado, porém não deu certo porque por aqui impera um conceito onde o trabalho é visto como um fardo do qual devemos aproveitar qualquer oportunidade para nos livrar.
Não estou me candidatando a workaholic oficial da banda. Curto o meu feriado numa boa, sem crises, afinal ando forçosamente empenhado em acreditar que no futuro teremos um país rico e democrático. E desta forma, estes poucos dias de ócio produtivo não quebrarão a banca, não é mesmo. E também forçosamente, não duvido que alguém reflita sobre a consciência negra do país na praia, à beira da piscina, no sítio ou tomando caipirinha no churrasco. O que fico me perguntando é: onde será que Zumbi, imbuído em sua luta por libertação, passava os feriados?
E para os famosos “meu nome é trabalho”, levantem sua bandeira que eu também assino em baixo. Só não derramem o meu whisky! E por falar nisso...quando é o próximo?