Passadas as repercussões sobre a atuação do Brasil nas Olimpíadas de Pequim cheguei a uma conclusão. Para você que acha que o Brasil não foi tão mal na competição, e também os que incrivelmente acham que ele foi bem, recomendo que revejam os números. Não os números de medalhas conquistadas, mas as cifras investidas em prol do esporte olímpico nos últimos quatro anos. Para relembrarmos e chorarmos (modalidade na qual somos medalha de ouro), o país fechou os jogos na 23ª colocação do quadro de medalhas, com três de ouro, quatro de prata e oito de bronze, somando 15 no total. Desempenho inferior ao da Olimpíada de Atenas, em 2004, na qual foram conquistadas cinco medalhas de ouro, duas de prata e três de bronze, com a 16ª posição no geral.
Bom, alguns membros da imprensa juntaram-se ao ministro do esporte, Orlando Silva, e ao presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman para cobrir com uma nuvem de otimismo, própria do brasileiro, o fiasco que foi a nossa participação no evento. A maioria deles se apoiou na lógica de que o país nunca havia participado de tantas finais olímpicas (foram 38) e três ouros inéditos foram conquistados. Outros preferiram o velho jargão nacional de culpar a falta de apoio, estrutura e investimentos no esporte brasileiro. Nuzman, chegou a afirmar que um dos motivos teria sido a ausência de um psicólogo nas equipes. “Precisamos valorizar este profissional tão importante como o fisioterapeuta, preparador físico, nutricionista e o médico”, disse.
Bom, talvez Freud explique também a permanência dele à frente do COB, mas o fato é que verba não faltou. O jornal O Globo do dia 25 de agosto derrubou a tese da falta de dinheiro como explicação. Segundo dados divulgados pelo periódico, o último ciclo olímpico (2005-2008), foi o que angariou maiores recursos federais em favor do esporte, em preparação para a competição. De acordo com o jornal, os investimentos públicos nos esportes olímpicos chegaram a R$ 692,58 milhões nos últimos quatro anos. O dinheiro é contabilizado por meio dos recursos das loterias, das empresas estatais, do fundo de incentivo fiscal e do Ministério do Esporte, com o Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento e o Brasil Campeão, que inclui o bolsa-atleta. Com isso, cada uma das 13 medalhas conquistadas pelo país na China (excluindo as duas do futebol, que não recebe dinheiro público) teve um custo de R$ 53,2 milhões aos cofres públicos. Não sei se estou sendo muito exigente, mas me parece que isso é muito dinheiro em qualquer lugar do mundo. As verbas foram repassadas ao COB e confederações esportivas, então deduzi que há alguma coisa errada na equação 53,2 milhões = pífio desempenho. A explicação da equação é óbvia e muito clara. O ministro do esporte e o presidente do COB pensam em ganhar medalhas. Não pensam no esporte como fator de inclusão social e saúde pública. Ou seja, não há uma política pública decente para o setor. Os programas feitos pelo Governo Federal e Estadual são paliativos e não combatem o problema na sua essência. Hoje 80% das escolas públicas no país não têm aulas de esportes porque não há quadras, material e nem professores. Vamos parar de acreditar neste engodo de que é um problema de investimento. É basicamente um problema político. Má gestão aliada a uma ausência de políticas voltadas à obtenção de resultados na performance esportiva. O vôlei apresenta resultados positivos no cenário externo porque a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) trabalha com planejamento a curto, médio e longo prazo. Investe em centros de treinamento para seleções de todas as categorias e para os dois gêneros. Enquanto vivemos na monocultura do futebol masculino atletas de outras modalidades mal recebem o suficiente para comprar uma passagem para um estágio fora do país.
Para quem esperava que seria o melhor desempenho da história, ficou o gosto amargo de ficar em colocações inferiores a países que têm um PIB bem inferior e problemas sociais muito maiores que os nossos, como Jamaica, Quênia, e Etiópia.
Vale ressaltar também que a presença dos azarões Nuzmam e Lula nos jogos também não trouxe lá muita sorte para os atletas. O primeiro estava lá na intenção de aparecer mais do que os atletas, o outro foi como sacoleiro.