O efeito Obama

É próprio da raça humana criar mitos e super-heróis, principalmente em momentos de frustrações. Incitados pelas trombetas da mídia em geral, o mundo foi tomado de uma eufórica pseudo-esperança após a vitória de Barack Obama. Até certo ponto, e visto pelo lado emotivo, é tocante ver alguém vindo das minorias conseguir um bom emprego como este. Foi uma mudança de paradigma sim, e merece alguma reflexão, mas Obama é um maquinista que entrou num trem em alta velocidade. Quem acompanhou suas pretensões de campanha sabe que em relação à política externa ele não vai mudar nada em relação a Bush. Obviamente ele será melhor que Bush, porque este facilmente fará parte de uma galeria de covardes como Stalin, Hitler e Mussolini, e talvez Obama acabe assumindo uma imagem de salvador pelo fato de não conseguirmos imaginar nada pior que Bush. No entanto ele precisará garantir sua governabilidade, e lembremos que ele governará um país em dificuldades que continua querendo ser mandatário com relação aos demais. O sistema americano (assim como o nosso) tem vida própria e dita as regras do jogo muito mais que qualquer líder político.
Então vamos voltar ao chão e acordar da amnésia coletiva, porque as promessas de Obama servem apenas para reforçar uma mentira: a velha máxima capitalista de que qualquer um pode ser o que quiser, o que para muitos é um sonho enterrado em vala comum. E sua vitória também não encerra o debate e a desigualdade racial nos EUA. Os afro-americanos continuarão ganhando menos, ficando mais desempregados e enfrentando maior taxa de mortalidade infantil e menor expectativa de vida com relação aos brancos. A linha que separa os democratas dos republicanos é muito tênue e Obama, antes de mais nada, é ideologicamente um capitalista que pegou um país em recessão e passará por um processo de reorganização interna de duração longa. A mera diferença entre Obama e McCain é que o primeiro sorri. Ambos seguram com firmeza a mesma estaca e estão prontos para arremessá-la em quem contrariar os interesses do país.
Obama dará continuidade a um jogo onde a elite econômica vai continuar mandando, até porque ele não quer acabar como John Kennedy. Ele não é um messias que acabará com a intolerância e a desigualdade no mundo. Não dá para apostar nele como algo diferente de tudo que já passou pela Casa Branca, ainda mais, levando-se em conta que por lá, em 230 anos somente dois partidos se alternam no poder, revezando mudanças somente de ordem fiscal e tributária. Voltemos então a nossa vidinha tranqüila por aqui, satisfeitos com nosso OBALULA, que realmente governa para as minorias (banqueiros, empresários, especuladores e agregados).