Custo em tom maior, destino desafinado

Será inaugurada (mesmo sem terminar) no próximo dia 18 no Rio de Janeiro a Cidade da Música, símbolo do longo mandato do ex-prefeito ainda em exercício César Maia. Há poucos meses atrás, talvez chateado por não conseguir fazer seu sucessor, Maia, num de seus rompantes megalomaníacos comparou o complexo cultural da Barra a monumentos de importância histórica como o Panteon (Roma) e o Parternon (Atenas).
Mesmo sem funcionar, a música que toca é de apavorar o bolso do cidadão carioca. Obra orçada pela Prefeitura inicialmente em R$ 80 milhões, o “Taj Mahal” do prefeito fecha com um custo de R$ 518 milhões. Bom, já caiu a ficha dos cariocas que em todas as vezes que César Maia falou em planejamento e modernização teria sido prudente termos ficado de olho na carteira. Então esqueçamos o chororô com os custos monetários e começemos a nos preocupar com o funcionamento desta versão carioca da Sydnei Opera House. Na hora de pesar valores, é claro que não conseguimos deixar de pensar que enterrar mais de 500 milhões num projeto que não tem um plano de funcionamento, é uma má versação de dinheiro público. Levemos em conta que é de conhecimento de todos (menos do prefeito) que a cidade enfrenta sérios problemas de conservação, favelização, entre outros.
Fato é que, ainda mergulhado num canteiro de obras, não existe conteúdo e nem um projeto casado de programação e funcionamento. Maia se esqueceu de que a casca não é tudo. Sem um planejamento funcional para o local, este será mais um prédio impressionante, caríssimo e mais nada. No entanto a Prefeitura, no afã político de inaugurar o equipamento, acredita que a cidade só tem a festejar. E é o que vai acontecer. Na marra. A OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira), que vai gerir o espaço, dará início aos eventos inaugurais tocando a Nona de Beethoven, entre outras atrações que movimentarão o local durante toda a semana de inauguração. A Orquestra que é mantida com verba do município (R$ 6 milhões anuais) enfrentará a dura tarefa de encontrar apoios públicos e privados para a manutenção do local.
Não há de se contestar que um grande pólo cultural e urbano como o Rio de Janeiro tem a necessidade de uma sala sinfônica digna do porte da cidade. Porém se tomarmos como elementos de comparação o custo de outras grandes salas sinfônicas construídas recentemente como as de Luxemburgo (R$ 280 milhões), Porto (R$ 260 milhões), Valência (R$ 312 milhões) e Los Angeles (R$ 480 milhões), podemos começar a pensar melhor nos valores da obra da Barra da Tijuca. Principalmente porque parece óbvio, para quem pensa um pouco, que um projeto de poder público municipal como este, teria grandes chances de atrair investimento privado, e no entanto ele foi todo pago com recursos dos impostos dos cariocas. Além da localização equivocada, pois aquele é um lugar de tráfego pesado da Barra, onde o entorno não possibilita a proximidade, resta saber o que vem pela frente. Esperemos para ver se um projeto coerente será implementado para que este organismo sinfônico moderno funcione a pleno vapor e justifique nosso investimento.
Maia, que pretende concorrer a governador do estado em 2010, tem como uma de suas plataformas a construção de um Museu Guggenheim na Zona Portuária. Desta forma, ele encerra o mandato com as marcas registradas de suas gestões: os factóides e as verbas mal direcionadas.